quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Tecnologia e Educação

Desafio aos professores: aliar tecnologia e educação

Nathalia Goulart
Guilherme Canela Godoi
Guilherme Canela Godoi (Arquivo Pessoal/VEJA)
Seja por meio de celular, computador ou TV via satélite, as diferentes tecnologias já fazem parte do dia a dia de alunos e professores de qualquer escola. Contudo, fazer com que essas ferramentas de fato auxiliem o ensino e a produção de conhecimento em sala de aula não é tarefa fácil: exige treinamento dos mestres. A avaliação é de Guilherme Canela Godoi, coordenador de comunicação e informação no Brasil da Unesco, braço da ONU dedicado à ciência e à educação. "Ainda não conseguimos desenvolver de forma massiva metodologias para que os professores possam fazer uso dessa ampla gama de tecnologias da informação e comunicação, que poderiam ser úteis no ambiente educacional." O desafio é mundial. Mas pode ser ainda mais severo no Brasil, devido a eventuais lacunas na formação e atualização de professores e a limitações de acesso à internet - problema que afeta docentes e estudantes. Na entrevista a seguir, Godoi comenta os desafios que professores, pais e nações terão pela frente para tirar proveito da combinação tecnologia e educação.
Qual a extensão do uso das novas tecnologias nas escolas brasileiras?Infelizmente, não existem dados confiáveis que permitam afirmar se as tecnologias são muito ou pouco utilizadas nas escolas brasileiras. Censos educacionais realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostram que a maioria das escolas públicas já tem à sua disposição uma série de tecnologias. No entanto, a presença dessas ferramentas não significa necessariamente uso adequado delas. O que de fato se nota é que ainda não conseguimos desenvolver de forma massiva metodologias para que os professores possam fazer uso dessa ampla gama de tecnologias da informação e comunicação, que poderiam ser úteis no ambiente educacional.
Quais devem ser as políticas públicas para incentivar as tecnologias em sala de aula?Elas precisam ter um componente fundamental de formação e atualização de professores, de forma que a tecnologia seja de fato incorporada no currículo escolar, e não vista apenas como um acessório ou aparato marginal. É preciso pensar como incorporá-la no dia a dia da educação de maneira definitiva. Depois, é preciso levar em conta a construção de conteúdos inovadores, que usem todo o potencial dessas tecnologias. Não basta usar os recursos tecnológicos para projetar em uma tela a equação "2 + 2 = 4". Você pode escrever isso no quadro negro, com giz. A questão é como ensinar a matemática de uma maneira que só é possível por meio das novas tecnologias, porque elas fornecem possibilidades de construção do conhecimento que o quadro negro e o giz não permitem. Por fim, é preciso preocupar-se com a avaliação dos resultados para saber se essas políticas de fato fazem a diferença.
As novas tecnologias já fazem parte da formação dos professores?Ainda é preciso avançar muito. Os dados disponíveis mostram que, infelizmente, ainda é muito incipiente a formação de professores com a perspectiva de criação de competências no uso das tecnologias na escola. Com relação à formação continuada, ou seja, à atualização daqueles profissionais que já estão em serviço, aparentemente nós temos avanços um pouco mais concretos. Há uma série de programas disponíveis que oferecem recursos a eles.
Para os alunos, qual o impacto de conviver com professores ambientados com as novas tecnologias?
As avaliações mais sólidas a esse respeito estão acontecendo no âmbito da União Europeia. Elas mostram que a introdução das tecnologias nas escolas aliada a professores capacitados têm feito a diferença em alguma áreas, aumentando, por exemplo, o potencial comunicativo dos alunos.
As relações dentro da sala de aula mudam com a chegada da tecnologia?O que tem acontecido - e acho que isso é positivo, se bem aproveitado - é que a relação de poder professor-aluno ganha uma nova dinâmica com a incorporação das novas tecnologias. Isso acontece porque os alunos têm uma familiaridade muito grande com essas novidades e podem se inserir no ambiente da sala de aula de uma maneira muito diferente. Assim, a relação com o professor fica menos autoritária e mais colaborativa na construção do conhecimento.
É comum imaginar que em países com um alto nível educacional a integração das novas tecnologias aconteça mais rapidamente. Já em países em desenvolvimento, como o Brasil, onde muitas vezes o professor tem uma formação deficitária, a incorporação seja mais lenta. Esse pensamento é correto?
Grandes questões sobre o assunto não se colocam apenas para países em desenvolvimento. É o caso, por exemplo, de discussões sobre como melhor usar a tecnologia e como treinar professores. O mundo todo discute esses temas, porque essas novas ferramentas convergentes são um fenômeno recente. Porém, também é correto pensar que nações onde as pessoas são mais conectadas e têm mais acesso a dispositivos devem adotar a tecnologia em sala de aula de modo mais amplo e produtivo. Outro fenômeno detectado no mundo todo é o chamado "gap geracional", ou seja, os professores não nasceram digitalizados, enquanto seus alunos, sim.
O senhor vê algum tipo de resistência nas escolas brasileiras à incorporação da tecnologia?
Não acredito que haja uma resistência no sentido de o professor acreditar que a tecnologia é maléfica, mas, sim, no sentido de que ele não sabe como utilizar as novidades. Não se trata de saber ou não usar um computador. Isso é o menor dos problemas. A questão em jogo é como usar equipamentos e recursos tecnológicos em benefício da educação, para fins pedagógicos. Esse é o pulo do gato.
Quais os passos para superar a formação deficitária dos professores?A Unesco sintetizou em livros seu material de apoio, chamado Padrões de Competências em Tecnologia da Informação e da Comunicação para Professores. Ali, dividimos o aprendizado em três grandes pilares. O primeiro é a alfabetização tecnológica, ou seja, ensinamos a usar as máquinas. O segundo é o aprofundamento do conhecimento. O terceiro pilar é chamado de criação do conhecimento. Ele se refere a uma situação em que as tecnologias estão tão incorporadas por professores e alunos que eles passam a produzir conhecimento a partir delas. É o caso das redes sociais. É importante lembrar que esse processo não é trivial, ele precisa estar inserido na lógica da formação do professor. Não se deve achar que a simples distribuição de equipamentos resolve o problema.
Disponível em http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/desafio-aos-professores-aliar-tecnologia-educacao



quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Educação do séc XXI

EDUCAÇÃO DO FUTURO  

                                                                                * Moacir Gadotti

Iniciamos este texto procurando situar o que significa “perspectiva”. Sem pretender fazer qualquer 
exercício de futurologia. No sentido de estabelecer pontos para o debate, gostaríamos de apontar 9
agora algumas categorias em torno da educação do futuro. Elas indicam o surgimento de temas com 
importantes conseqüências para a educação. 
As categorias “contradição”, “determinação”, “reprodução”, “mudança”, “trabalho”, “práxis”, 
“necessidade”, “possibilidade”, aparecem freqüentemente na literatura pedagógica contemporânea, 
sinalizando já uma perspectiva da educação, a perspectiva da pedagogia da práxis. Essas categorias 
tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno da educação, principalmente a partir de Hegel e 
de Marx. A dialética constitui-se, até hoje, no paradigma mais consistente para analisar o fenômeno 
da educação. Podemos e devemos estudá-la e estudar todas as categorias acima apontadas. Elas não 
ajudam muito na leitura do mundo da educação atual. Elas não podem ser negadas ou desprezadas 
como categorias “ultrapassadas”. Mas também podemos nos ocupar mais especificamente de outras, 
ao pensar a educação do século XXI, categorias nascidas ao mesmo tempo da prática da educação e 
da reflexão sobre ela. Eis algumas delas, a título de exemplo. 

1ª) Cidadania. O que implica também tratar do tema da autonomia da escola, de seu projeto 
político-pedagógico, da questão da participação, da educação para e pela cidadania. A partir dessa 
categoria podemos discutir particularmente o significado da concepção de escola cidadã e de suas 
diferentes práticas. Educar para a cidadania ativa tornou-se hoje projeto e programa de muitas 
escolas e de sistemas educacionais. 

2ª) Planetaridade. A Terra é um “novo paradigma” (Leonardo Boff). Que implicações tem essa 
visão de mundo sobre a educação? O que seria uma ecopedagogia (Francisco Gutiérrez) e uma 
ecoformação (Gaston Pineau)? O tema da cidadania planetária pode ser discutido a partir dessa 
categoria. 

3ª) Sustentabilidade. O tema da sustentabilidade originou-se na biologia, passando pela economia 
(“desenvolvimento sustentável”), pela ecologia, para inserir-se definitivamente no campo da 
educação: educar para uma educação sustentável. O que seria uma cultura da sustentabilidade? Esse 
tema deverá dominar muitos debates educativos nas próximas décadas. O que estamos estudando 
nas escolas? Não estaremos construindo uma ciência e uma cultura que servem para a degradação e 
para a deterioração do planeta?

4ª) Virtualidade. Esse tema implica toda a discussão atual sobre a educação a distância e o uso dos 
computadores nas escolas. A informática associada à telefonia nos inseriu definitivamente na era da 
informação. Quais as conseqüências para a educação, para a escola, para a formação do professor e 
para a aprendizagem? Conseqüências da obsolescência do conhecimento. Como fica a escola diante 
da pluralidade dos meios de comunicação? Eles nos abrem os novos espaços da formação ou irão 
substituir a escola? 

5ª) Globalização. O processo da globalização está mudando a política, a economia, a cultura, a 
história... Portanto, também a educação. É um tema que deve ser enfocado sob vários prismas. A 
globalização remete também ao poder local e às conseqüências locais da nossa dívida externa global 
(e dívida interna também, a ela associada). O global e o local se fundem numa nova realidade: o 
“glocal”. O estudo desta categoria nos remete à necessária discussão do papel dos municípios e do 
“regime de colaboração” entre união, estados, municípios e comunidade, nas perspectivas atuais da 
Educação Básica. Para pensar a educação do futuro, precisamos refletir sobre o processo de 
globalização da economia, da cultura e das comunicações.

6ª) Transdisciplinaridade. Embora com significados distintos, certas categorias como 
transculturalidade, transversalidade, multiculturalidade e outras como complexidade e holismo 
também indicam uma nova tendência na educação que será preciso analisar. Como construir 10
interdisciplinarmente o projeto pedagógico da escola? Como relacionar multiculturalidade e 
currículo? É necessário realizar o debate dos parâmetros curriculares. Como trabalhar com os 
“temas transversais”? O desafio de uma educação sem discriminação étnica, cultural, de gênero. 

7ª) Dialogicidade, dialeticidade. Não podemos negar a atualidade de certas categorias freireanas e 
marxistas, isto é, a validade de uma pedagogia dialógica ou da práxis. Marx, em O capital, 
privilegiou as categorias hegelianas “determinação”, “contradição”, “necessidade”, “possibilidade”. 
A fenomenologia hegeliana continua inspirando nossa educação e deverá atravessar o milênio. A 
educação popular e a pedagogia da práxis deverão continuar como paradigmas válidos para além do 
século XXI.
Disponível em:
 http://www.educacao.salvador.ba.gov.br/site/documentos/espaco-virtual/espacopraxispedagogicas/ARTIGOS%20E%20TEXTOS/desafios%20para%20a%20era%20do%20conhecimento.pdf